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Contra desperdício, França organiza ajuda financeira inédita para conserto de eletroeletrônicos

Até pouco tempo atrás, o lixo era o destino certeiro de uma televisão pifada em uma casa na Europa – o conserto era caro demais ou, pior ainda, impossível, já que as peças de reposição não são postas à venda. Mas a crise climática e a pressão de organizações de consumidores, revoltados com a chamada obsolescência programada dos aparelhos eletroeletrônicos, estão possibilitando mudanças de paradigmas.PUBLICIDADEhttps://d72ae4e8ca67b53ab70fe00bdf165b22.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Laetitia Vasseur, cofundadora de uma das principais entidades do gênero na França, a HOP, já nota uma grande diferença no comportamento dos consumidores e das fabricantes desde que a associação foi criada, há sete anos.

“Mais de 70% das pessoas têm vontade e estão dispostas a consertar os produtos que estragam, segundo algumas pesquisas, em vez de jogar fora e comprar outro. A dificuldade é realizar esse desejo, que enfrenta barreiras como encontrar novas peças, o objeto ser muito difícil de abrir ou desmontar, ou o preço elevado das peças para o conserto”, explica.

O problema, que antigamente era tratado com resignação pelos consumidores, ganhou os holofotes nos últimos anos e a pressão aumentou sobre as fabricantes. Hoje, as lojas de consertos de telefones ganharam espaço até em shopping centers, algo inimaginável há uma década. Mas o caminho ainda é longo para uma solução à altura, para a telefonia. 

“Na Europa há diretivas, regulamentações, que impõem um prazo mínimo legal de disponibilidade de peças para conserto. Quando está indicado que o prazo mínimo é sete anos, já temos um período bastante longo e para alguns produtos, como uma máquina de lavar roupas, chega a 10 anos”, afirma Laetitia. “Portanto é óbvio que é necessário poder encontrar as peças durante todo o período de uso.”

Fundo para consertos

Na França, uma ampla lei de 2020 sobre a economia circular prevê uma iniciativa inédita na União Europeia: ajuda financeira para incitar os consumidores a levar eletrodomésticos e material de informática para o conserto. A ideia é que eles possam recorrer a uma rede certificada de profissionais, associada oficialmente à medida, e tenham cerca de 10% da conta coberta pelo governo. Com o tempo, o objetivo é adaptar essa parcela conforme a longevidade do produto: geladeiras e lavadoras deverão ser melhor atendidas do que smartphones, por exemplo.

A verba, de incialmente € 20 milhões por ano, será financiada por uma “ecotaxa” cobrada na venda de produtos novos. A meta é que, em seis anos, o valor do fundo ultrapasse os € 100 milhões.

O projeto, entretanto, está atrasado – vítima, por um lado, do contexto econômico de inflação alta e, por outro, das dificuldades de os organizadores contemplarem toda a cadeia envolvida. A ideia de adoção de um teto para os valores dos consertos assusta os profissionais, por exemplo. Já os especializados em reciclagem temem recolher menos produtos quando a lei entrar em vigor.

“É muito decepcionante, considerando que é uma obrigação legal. Estava previsto em lei que entraria em vigor em 2022 e o governo teve tempo de se preparar. Alguns dos atores envolvidos se prepararam, afinal o sistema não é simples, mas é possível”, lamenta Laetitia Vasseur “Porém o que estamos vendo é que os envolvidos não chegam a um acordo. Deveríamos estar acelerando o passo, mas o que acontece é que parou tudo, num momento em que já enfrentamos o aumento da inflação e da emergência climática”, ressalta.

Do It Yourself

Enquanto isso, os consumidores tentam se virar como podem. Antes restrita a sites especializados em eletrônicos, agora a revenda de peças ocorre também dentro de plataformas comuns de transações de usados, como LeBoncoin, líder do setor na França. No Youtube, pipocam influenciadores de Do It Yourself (DIY), determinados a ajudar qualquer um a consertar uma lavadora ou um tablet.

Uma iniciativa já antiga, o Repair Café, nasceu na Holanda e se espalhou por várias cidades europeias na Espanha, Alemanha ou França. No local, um café, amadores ajudam-se uns aos outros e trocam dicas para consertar os mais diversos produtos. Muitas vezes, basta uma limpeza adequada para fazer funcionar novamente uma máquina de café.

Laetitia Vasseur, da organização HOP, lembra que, a cada ano, um francês joga fora 23 quilos de lixo eletroeletrônico. A reciclagem pode parecer um fim digno para o produto, mas as aparências enganam.

“Antes disso, há muito coisa a ser feita. A reciclagem não deve ser vista como uma solução ideal”, frisa a militante. “Precisamos alongar a duração de vida dos produtos, consertá-los, antes de entregá-los à reciclagem.”

*rfi.fr

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