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Adolescente cadeirante vive transtorno e sofre acidente em São Gonçalo causado por empresas de ônibus que não cumprem regras de acessibilidade

A sofrida rotina, acompanhada por humilhação, constrangimento, perda e longas esperas por ônibus adaptado às pessoas com deficiência, ainda é uma triste realidade no Rio de Janeiro, e principalmente no município de São Gonçalo, região metropolitana do Rio.

Muitas empresas de ônibus ainda descumprem as regras de acessibilidade, causando tamanho sofrimento, transtornos, e em alguns casos, até acidentes ao usuário que necessitam desse meio especial de transporte.

Foi o caso vivenciado nesta terça-feira (17), por Breno Batista, morador do município de São Gonçalo. O acidente aconteceu durante seu retorno para casa, no ônibus da linha 55b da Viação Icaraí, empresa do Grupo Viação Mauá S/A.

Breno saíra de casa na busca do seu novo Rio Card, no bairro de Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. Infelizmente, a viagem também, foi sem sucesso, pois o local de entrega de seu novo cartão havia mudado para outro lugar.

A família e o cadeirante vivenciaram na pele mais um dia de transtornoe constrangimento após esperar cerca de 2 horas por vários veículos sem acesso ou com problemas no elevador.

Mas o que eles não imaginavam é que na volta para casa, a sofrida rotina pela espera de um transporte publico adaptado para cadeirante, seria pior, ocasionando acidente e constrangimentos ao adolescente.

Hoje saímos eu, minha mãe e meu irmão Breno Batista. Como os amigos sabem, o Breno é cadeirante. Quando saímos, já sabíamos que seria um baita desafio nossa ida à Copacabana”, iniciou relatando Bruno, o irmão mais velho de Breno, que também caiu e quase se acidentou devido à falta de acessibilidade. “Havia um ônibus com elevador, o famoso 55b, ônibus de número 1.169 da Viação Icaraí, empresa do Grupo Viação Mauá S/A, parado no terminal. O elevador do veículo funcionou e tudo parecia bem, até que chegou o momento do desembarque. O equipamento desceu normalmente, mas ao passar as primeiras rodas da cadeira, o elevador subiu bruscamente, fazendo com que o Breno voasse de cara no chão. Ele deu um grito bem alto e vieram algumas pessoas para nos ajudar a levantá-lo”. Contou.

Além do mal-estar emocional do cadeirante, de acordo com o relato de Bruno, o acidente machucou o queixo e quebrou o aparelho do adolescente.

Confira na íntegra o desabafo relatado pelo irmão do adolescente cadeirante acidentado.

 

“Eu nunca me imaginei escrevendo textão no Facebook, mas quando acontecem situações adversas com quem amamos e nós mesmo, a situação muda. Hoje saímos minha mãe, meu irmão Breno Batista e eu. Como os amigos sabem, o Breno é cadeirante. Quando saímos já sabíamos que seria um baita desafio irmos à Copacabana, onde tínhamos o compromisso de retirar o novo cartão Rio Card dele. Começamos a jornada indo até o ponto de ônibus mais próximo de nossa residência para irmos até Niterói, e lá seguirmos para Copacabana. Pois é, não foi tão fácil como parecia, porque a Auto Viação ABC S/A não dispõe de elevador para cadeirante em toda sua frota. OK, esperamos cerca de 40 minutos, mais ou menos, por um ônibus que tivesse duas portas para o Breno fazer o embarque. Sem sucesso, embarcamos no famoso 55b (com elevador) da mesma empresa para irmos alguns pontos à frente (Itaúna) onde teríamos mais algumas opções de ônibus. Ok, o elevador funcionou normalmente. Ficamos lá por mais 30 minutos e novamente nenhum ônibus com elevador apareceu para que pudéssemos chegar à Niterói. Tempo depois, passa um ônibus com duas portas (sem elevador). Pelo tempo que já havíamos perdido esperando o ônibus, resolvi, então, colocar meu irmão no ônibus nos braços mesmo. Chegamos à Niterói, e devido ao tempo perdido, decidimos atravessar a Baía de barca e pegarmos um táxi (ou Uber), para, enfim, chegarmos à Copacabana. Na Praça XV, optamos por um táxi, devido à quantidade disponível no local. Os taxistas foram muito solícitos e nos ajudaram em todo o trajeto. Chegando ao nosso destino, acredite se quiser, mudaram, nesta semana, o local de entrega do Rio Card de meu irmão. Sim, fomos até Copacabana à toa. Teríamos que retornar para o Centro em 20 minutos, pois já estava para encerrar o expediente do “novo local de entrega”. Desistimos, era impossível chegar a tempo.

Ali em frente mesmo, há um ponto de ônibus que, sem esperar muito, passou um ônibus da Empresa de Transportes Braso Lisboa (Leme x Charitas) que ia em sentido Niterói. Vale ressaltar que o motorista, sem expressar muita reação, simplesmente nos disse que o elevador estava ruim e saiu com o ônibus. Então, para não perder a ida à “Cidade Maravilhosa” pegamos um ônibus que nos deixaria na Rodoviária Novo Rio, onde pesquisaríamos o preço de algumas passagens e agendaríamos uma viagem. Pegamos o da linha Troncal 04. Eu disse ao motorista “boa tarde”, ele me respondeu simplesmente: “O elevador está ruim!”, e me convidou a colocá-lo “no braço”. Eu disse que poderíamos tentar. Constatamos, realmente, que o elevador estava ruim, mas conseguimos fazê-lo subir com o Breno. O ônibus foi apitando até o ponto final onde ficamos. Na hora do desembarque, tentamos fazer com que o elevador funcionasse para o Breno descer, mas o equipamento simplesmente parou. Tomei um baita tombo ao tentar descer as escadas (elas ficaram moles). Não me machuquei. Desembarcamos Breno “no braço” pela porta de trás do ônibus e seguimos.

Chegamos à Rodoviária Novo Rio, e no guichê da Viação Kaissara, fomos informados que minha mãe e o Breno só poderiam viajar com o Passe Livre Federal aos domingos, quando, o ônibus disponível para o destino desejado, dispõe de lugares reservados para eles – acompanhante e deficiente. Oi? Sério? Fomos embora!

Andamos até um ponto distante, para pegar um ônibus e atravessar para o lado de lá da ponte (Niterói). Optamos pelo ônibus da Auto Viação Fagundes que nos deixaria em Alcântara. Pois é, a mesma história: elevador ruim. Uma despachante de outra empresa que ali estava viu que o problema se encontrava na porta. Forçou a e tudo funcionou. Seguimos para Alcântara para tentar mudar um pouco o humor do meu irmão, que já se sentia mal em ver toda a dificuldade que enfrentara, fomos a um fast food no Pátio Alcântara Oficial e, pela primeira vez no dia, fomos imensamente bem atendidos.

Finalmente, fomos para casa. Havia um ônibus com elevador, o famoso 55b número de ordem 1.169 da Viação Icaraí, do Grupo Viação Mauá S/A, parado no terminal citado acima. Ele funcionou e tudo parecia bem, até que chegou o momento do desembarque. O elevador desceu normalmente. Ao passar as primeiras rodas da cadeira, o equipamento subiu bruscamente, fazendo com que Breno voasse de cara no chão. Ele deu um grito bem alto. Vieram algumas pessoas para nos ajudar a levantá-lo. Não sei se o problema foi causado pelo motorista ou mau funcionamento do elevador. O resultado: Dores no corpo, queixo machucado, aparelho quebrado e o susto que nós passamos. Talvez não tenha valido a pena sair de casa hoje. Mas tenho certeza de que, se pelo menos, as devidas manutenções dos elevadores fossem feitas regularmente esse dia poderia ter sido diferente.

Uma observação importante: como relatado acima, não conseguimos retirar o Rio Card (vale social) de meu irmão Breno, além de pagar todas as passagens”.

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